Uma criança com seu olhar


Encontrei a paz nos olhos de uma criança. Não pude deixar de notar. Era ofuscante a energia que transmitia enquanto me fitava. Nos desencontros e correrias do meu cotidiano encontrei-a, e não pude sair dalí antes de contemplá-la.
Nos primeiros minutos eu nem si quer lembrei-me do terno caro que vestia devido à reunião, não me importei com a pasta cheia de documentos que carregava com cuidado, simplesmente me acomodei na areia do parque e não deixei de olhar aquela criança.
Teus pés descalços afundavam na areia enquanto corria entre as outras crianças. Aos poucos fui aprofundando na imagem que via e notei que as outras crianças olhavam-na diferente, mas aquela doce criança, em sua total inocência, nem percebia.
Ela ia perceber. Conforme passasse o tempo, conforme o mundo lhe roubasse a inocência. Quão cruel, pobre criança. Tuas vestes curtas e gastas condenavam sua posição social, talvez fosse ela uma daquelas que não encontra o carinho em casa, mas sim num parque com outras crianças que tem de tudo, mas que falta a simplicidade, como a que ela possuía.
Teus olhos brilhavam e sua cor negra trazia destaque. Imaginei então quanto tempo levaria para que esta criança fosse arrumar trabalho pra ajudar em casa, ou perdesse seu pai para as drogas, ou se visse lutando pra conquistar uma vida digna e se visse sendo barrado em muitas injustiças que enfrentaria devido a sua cor. E depois de tanta luta, se encontraria escravo de uma sociedade hipócrita.
Fechei os olhos enquanto lagrimas corriam pelo meu rosto. Foi quando senti um toque leve secando minha face. Era as mãos pequenas daquela criança que me acolhia com um sorriso mágico. Na verdade aquela criança nada mais era que meu reflexo, a minha história, quando eu não mais me reconhecia.

Amantes de guerra


Esta estrada não parece a mesma da qual bailávamos entre pernas bambas à luz da lua, após doses inteiras de uísque. Teus olhos rasos se tornaram profundamente obscuros. Eu nem mesmo sei onde exatamente nos afastamos, na faculdade ou neste casamento furado.
As fotos revelam o quanto um dia nos amamos. Nelas estão guardadas as lembranças da faculdade, da qual apesar de estúpida, eu só resolvi fazer por sua causa. Intervalos inteiros você me provocava até terminarmos no “achados e perdidos” fazendo amor.
Era tempo de guerra, revolução. Éramos aqueles que entravam em conflito com os militares, fingíamos estar bêbados enquanto bolávamos algo contra a imposição do governo militar. Brincávamos com o perigo enquanto a adrenalina nos impulsionava a ir mais longe, a ousar.
E então, meu bem? Onde nos perdemos? Teus olhos não brilham mais como em tempos de guerra. Talvez o que movia nosso amor era aquela sensação extasiante de se amar mesmo na dor, mesmo que o país quisesse aprisionar as paixões e os pensamentos.
Este pó e silencio que se alastrou no ar após o fim de tudo, também nos esfriou. Podíamos ser bem mais do que somos agora, amantes presos a um passado memorável.

É impossível ser feliz sozinho


Poetas costumam dizer que são os que mais se adaptam a solidão, mas nem mesmo eles conseguem aguentar tanto tempo só... Fantasiam as palavras, mas lá no fundo clamam por afeto.
Somos um grande oco procurando alguém que nos preencha, sedentos por carinho, respeito, sentimento. Estar cercado de pessoas não quer dizer que somos felizes, muito menos ter tanto dinheiro. Quantidade nem sempre é sinônimo de felicidade.
E não há nada mais entristecedor que alguém só. Os olhos opacos vagam vazios na multidão. Mas uma dose de atenção é tudo que alguém precisa pra sentir-se menos só, mas quem se importa com a solidão dos outros quando dentro de si também são vazios, mesmo sem perceberem.
A liberdade não passa de uma grande cilada. Convencemos-nos que sozinhos somos felizes, mas não paramos um segundo de procurar alguém, mesmo que seja só por uma noite. Até que você percebe que a felicidade não consiste em poder ter varias pessoas sem compromisso e sim em comprometer-se com uma e se sentir satisfeito.
Nem mesmo o mais pobre dos homens consegue viver só. Nem mesmo o mais realizado financeiramente consegue viver só. Buscamos compreensão e por mais que as pessoas falhem conosco, ficamos por tempos culpando o resto da humanidade, mas mesmo assim, não suportamos a solidão.
A solidão é uma espécie de bebida. Embriaga e te faz ver coisas que não podia ver sóbrio. Mas ela dura por instantes, não podemos tê-la para sempre ou teremos sérias conseqüências. Ela te amadurece até estar pronto a ser tão mais sozinho. Mas o excesso dela pode te tornar rude a ponto de pensar que é auto-suficiente... Mas, ninguém é auto-suficiente.
Quando assistimos a um filme romântico ou o que seja, por exemplo, tentamos imaginar nossa vida passando pelo mesmo. E até mesmo a pessoa de coração duro e impenetrável deixa que os sonhos lhe habitem. Pois até mesmo aquele que se engana dizendo que não precisa de ninguém, na verdade apenas busca alguém que lhe prove o contrário.
A solidão é importante em momentos de dúvida e de dor, mas é mais importante ainda ter alguém quando a tempestade passa e apenas o que precisamos é de um abraço que nos passe o calor que falta e nos afaste de tudo.
Todos nós precisamos de alguém. Todos nós queremos atenção e que alguém se importe com a gente. Mesmo que não seja a pessoa que gostamos, mesmo que seja cheia de defeitos, precisamos sentir e saborear dessa sensação de que alguém se preocupa conosco.
Costumo dizer que sou sentimental demais, mas eu não posso esconder o que realmente sou. Então coloco a culpa no meu signo. Mas mesmo com tantos pensamentos diferentes que vagam por aí e pelos que leem o que escrevo, precisa admitir: você pensa o mesmo!

Como já dizia Tom Jobim “É impossível ser feliz sozinho...”.

Permita-me duvidar...


Permita-me duvidar do amor,
Enquanto teu silêncio me enlouquece aos poucos
Enquanto eu me transformo e enfim me desconheço
E então, o que pareço?

Permita-me duvidar dos sonhos,
Que me embriagam de possibilidades inimagináveis,
Que me iludem, me tomam o corpo e a alma
E que por fim se designam incansáveis.

Permita-me duvidar de mim,
Que me revelo de vários modos,
Que possuo a mente e o coração incompatíveis,
Que à luz do dia estou revigorada
E que à penumbra da noite me encontro amedrontada.

Permita-me duvidar desta minha alma
Que me revela o mundo e me cortam as asas.

E então, o que pareço?
Sou apenas este ser sufocado em infinitas dúvidas
Que é levado a duvidar de si mesmo.


A inspiração tem estado um tanto enfraquecida dentro de mim. Espero retornar à essência da escrita e não ter mais dificuldade em me expressar nestas linhas.

A Linguagem da Alma: 2 Anos!


O blog que já passou por tantas fases até encontrar seu lugar.
A garota que se traduz no que escreve e encontra consolo nas palavras.
E esta linguagem que só quem lê com a própria alma entende.

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As cinco postagens preferidas da autora

Pós-morte  [Clique aqui para ler]
Este texto foi um dos mais impactantes, os leitores ficaram meio assustados, afinal eu escrevi, como se fosse um testamento, não aqueles pra separar os bens e sim com desejos, coisas que gostaria que fizessem após a minha morte. Não, ele não foi um recado suicida, eu apenas quis fugir do clichê. Acho que a morte assusta um pouco as pessoas.

The Mistress  [Clique aqui para ler]
A Amante (tradução do título). Este texto foi completamente fora do meu estilo. Conta sobre uma jovem que se envolve com um homem rico, porém casado. A paixão ardente acaba quando ela, no auge da excitação, diz que o ama. Após aquela noite ele a deixa, e ela se torna, digamos que, uma prostituta cara, mas nunca deixa de amá-lo. Este texto arrancou suspiros dos leitores e eu, adorei escrevê-lo. Um romance quente.

Coração Anônimo  [Clique aqui para ler]
Este poema foi o mais comentado no blog, talvez por sua sensibilidade. É sobre as pessoas anônimas, estas que vemos nas ruas, porém não sabemos nada sobre suas vidas, suas dores, amores. E o poema é como a visão de uma pessoa que observa um desses anônimos e tenta compreendê-lo. Gosto muito deste poema pois eu mesma sou assim, passo por alguém e fico me interrogando. Há tanta vida, tanta história e nós não podemos resumir o mundo apenas ao que nos diz respeito.

Horizonte Ultrapassado  [Clique aqui para ler]
Este poema é um dos meus melhores. É sobre essa visão ultrapassada que todos nós temos, onde vivemos e sentimos superficialmente, onde falta cor, sentimento, onde faltam os valores humanos. E fala sobre atravessar nossas fronteiras e nos entregarmos ao que a vida pede da gente, que é a vontade de aproveitar cada instante. Vale muito a pena ler esse poema quando se busca motivos pra continuar a caminhada, quando nos encontramos desmotivados.

Aquela Que Não Sabia Amar  [Clique aqui para ler]
Esse texto é nada mais que um típico reflexo da autora. Não tenho mais o que dizer, o título já disse tudo. Gosto muito deste texto.

Gostaria de colocar muitos outros, porém o post ficaria muito grande. Caso vocês gostem em especial de algum que não citei aqui,diga nos comentários.
A vida desta blogueira mudou muito desde a criação deste blog. Pra quem me acompanha desde o começo sabe que o blog já teve outros nomes e sabe também que cada um deles representou uma fase da minha vida. Conforme amadureci, o blog acompanhou.
São dois anos de reflexão, dúvidas, sentimentos, expressos nestas páginas. Quando dei inicio a tudo isso, eu não passava de uma garota do ensino médio que não sabia nada da vida. E hoje... É, continuo são sabendo tanto assim sobre a vida, mas tudo mudou e estou prestes a ser uma pessoa completamente nova. Acho que ninguém por aqui sabe sobre meus planos de vida, então deixarei vocês por dentro já que provavelmente ano que vem, não terei tanto tempo mais para escrever. Irei ano que vem para a Bolívia fazer medicina (chuva de opiniões e criticas agora nos comentários, hehe!). Então, daqui até o fim do ano podem ser os últimos meses do blog... - Não, eu não posso dizer isso a vocês.- Eu juro que tentarei ao máximo que não seja, nem que eu poste a cada dois meses, ok?
Mas hoje não é um dia de lamentar, é de se alegrar. Afinal celebro o aniversário deste maravilhoso refúgio que encontrei no mundo. Os que não entendem esta magia, podem até achar tudo isso bobeira, mas apenas quem sente, quem liberta a alma para entender esta linguagem única, sabe o quão importante é escrever.
Gostaria de agradecer a cada um de vocês que me acompanham, e dizer que se não fosse o carinho de vocês expresso através dos comentários, por mais simples que fossem, se não fosse vocês eu não teria reaberto o blog como fiz por várias vezes. Muito obrigada e viva a Linguagem da Alma.

E para finalizar deixo aqui a frase que escolhi para representar e resumir o blog:
"Eu não falo a língua dos homens ou os idiomas distintos. Eu falo a linguagem universal da alma e ela por si só já é suficiente."

Confesso


Não habita em mim as melhores certezas
De dez palavras, oito são confusas.
Aos meus defeitos sempre estou presa.

Confesso que sou dessas que lê mensagens antigas,
Que sorri sozinha com a lembrança,
Que gagueja e se esquece do que ia dizer
Se do meu lado estiver você.

Bobeiras minhas, não leve a mal
Sou poeta e meu dever é dizer tudo,
E não é minha culpa viver pensando em você,
Desde a manhã até o anoitecer.

Segurança não é meu forte,
Mas eu queria ter a sorte
De te encontrar em uma esquina qualquer,
E que você me provasse algo contrário a tudo que já passei.

Mas se nada for o que penso perceber
Se tudo isso for coisa da minha cabeça,
Diga-me sem pausa, com todas as letras
Antes que eu me apaixone mais por você.

Carpe Diem


Eu poderia novamente escrever-me nestas linhas, encher a página de desgosto e mágoa, mas a monotonia me cansa - mesmo que às vezes eu não consiga fugir dela. E por hoje, por essa noite, eu quero ser um pouco diferente (ou clichê, como muitos irão pensar quando terminar de ler esse texto).
Nós não somos mais os mesmo. Perdemo-nos da criança que havia em nós, e muitos, da própria essência. O que sai de nossa boca, em maioria são reclamação e negatividade. Todos os dias repetimos “o tempo passa”, mas não fazemos nada para que esse tempo seja bem passado.
Um dia me perguntaram: “O que você contará para seus netos?” A partir daí eu olhei à minha rotina e percebi que dalí não extrairía muita coisa útil. Olhei para a minha mente, pra minha alma, e percebi que guardo muitas coisas inúteis. As pessoas estão cheias disso: coisas ruins que as amargam por dentro, das quais não conseguem se libertar.
Precisamos de mais sorrisos de felicidade sincera, aquela que já amanhece junto ao dia. Precisamos nos libertar do estereótipo que a mídia prega e perceber que independente de altura, peso e cor, todos possuímos uma beleza, um sorriso e coração que é só nosso.
Precisamos ter algo em que acreditar, pois é a crença que nos mantém firmes. Ninguém sabe do fardo que o outro carrega então vamos deixar o julgamento de lado, e ao invés de condenar, tentar ajudar.
Precisamos de mais brilho nos olhos, abraços, romances, alegrias. Usar a positividade a seu favor. Deixar de chorar pessoas idiotas que te abandonaram por uma gostosa ou um playboy e se amar mais, fazer a sociedade te ver com olhos de admiração, não de piedade. Eleve sua auto-estima e abra os olhos para quem gosta de você pelo que é de verdade.
Vamos pintar as paredes, as rotinas, a vida. Vamos encher o lixo com as coisas que nos trás recordações tristes, coisas que nos prendem ao passado. Pegue um ônibus e visite lugares verdes, com cheiro de natureza e com silêncio.
Aprenda a separar os tipos de amigos. Tire um tempo para um hobby.  Não esconda teus gostos para agradar os outros. Seja diferente, tenha conteúdo. Se apaixone, viaje, saboreie coisas novas, batalhe pelo que quer, e erre, erre pra valer, pois só assim aprenderá o que a vida vive querendo te ensinar.
E então se chegou até estas linhas finais você deve ter me achado clichê demais. E eu sei que o que disse aqui estão cansados de ouvir, mas acho que se tudo isso estivesse constantemente passando em nossas TVs, estampado nos outdoors das ruas, e por todo lugar que fossemos, aí sim você praticaria isso  um pouco mais. Você pode até dizer que não, mas a sociedade te interfere sim (e eu juro que não entendo, porque ao invés de progredir, regredimos).
A vida é extremamente única, não a perca. Há tanta coisa boa com que se importar, não se prenda a rancor ou mágoa. Liberte-se da monotonia e seja feliz. É como dizem... “Carpe Diem”.



"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."
Carlos Drummond de Andrade

Meu sei-lá-o-que pessoal


Se ontem os dias corriam emaranhados, hoje são lentos. Estou a beira do tudo ou nada e meus olhos lacrimejam essa vontade de entender a mim mesma, entender do que preciso para explodir sentimentos pelo fato de o que desejo esta se realizando.
Quando olhei para as estrelas elas não estavam lá, uma neblina deixava a vista apenas o frio e a lua. Não está sendo suficiente. Estou simplesmente deixando os dias passarem da forma que quiserem, estou delegando a quem quiser momentos felizes. Mas tudo tá tão lento, tão resolvido, tão vazio...
Só parece surreal. Estes incentivos encorajadores que recebo ao longo dos dias da semana. Estas coisas que se ajeitam perfeitamente para que tudo dê certo. Esta realidade que se aproxima conforme os dias. Esta rotina que se desprende aos poucos de mim como as folhas secas de uma arvore.
Eu sou esta folha seca. Eu me embriago do que ainda tenho. Normalmente o decorrer é comum e promissor, mas estas noites... Ah, elas me enlouquecem com sua confiança suspeita, com o silêncio que nada me diz, e é em teu silêncio que se confunde minha alma.
Minhas palavras mais parecem sem nexo, já que estou refletida nelas. Pareço não ter despertado ainda e estar vivendo um dos sonhos mais longos e mudos que já passei. Pois tudo passa como se fosse um filme mudo. E a voz que eu preciso ouvir não se faz presente.
E dentre estes dedos nervosos em escrever frases que não tem rumo certo minha mente paira sobre o silêncio. É só isso que tenho. É só isso que sinto. Silêncio. Dizem-me o que sempre quis ouvir. Silêncio. Aprontam minhas malas. Silêncio. Ou então me subestimam. Silêncio.
“Por que enchi estas linhas de confusão?” – Pergunta meu inconsciente que tem o que eu procuro, esse sei-lá-o-que. E eu instantaneamente me baseio no que as estrelas poderiam ter me dito e na vontade de me encontrar para um papo casual no fim da tarde, só eu e minha alma. Talvez ela dê uma demonstração da sua linguagem e me faça parar de buscar tanto e simplesmente deixar acontecer – ou me encoraje a buscar este sei-lá-o-que que tá faltando em mim.

Não há como deter a alvorada


Ao som de Partir, Andar.



Dias correm, emaranhados, entre tropeços e conversas que se desencontram. Você me faz parar enquanto o mundo rodopia. Eu percorro dias frios e confusos e a realidade cada vez mais insiste em me fazer despertar da rotina. Quer me despejar. Em algum lugar distante alguém pergunta por mim, dedica uma canção, me enobrece, mas meu coração se diz fechado para visitas.
Não estou alugando palavras, não estou correspondendo a todos. Digo a mim mesma que o tempo tá curto e caro demais pra me dar o luxo de me apaixonar. Você me cativa com tua sensibilidade camuflada. Eu estou me soltando aos poucos ao mundo, não sei entrar por inteira.
Estou diante dessa imensa porta, olhando tudo com meus olhos limitados. Meus passos são lentos mas sinto algo a me empurrar. Seria finalmente a desproteção materna ou então as decisões em minhas mãos? Um soluço inaudível a corromper a silêncio de minha alma enquanto externamente eu me preparo.
Estou prestes a dar a cara para que o mundo me bata, me faça tua, me ensine. Enquanto deixo as palavras ecoarem na vida das pessoas que amo e nas que deixei de amar. Deixo minha limitação para trás, deixo meu passado nestas ruas cotidianas. Deixo teus olhos tristes com saudade do que não aconteceu.
Florescerão coisas novas neste chão que ninguém pisa, os raios deste sol transpassarão pela dura camada que carrego e me tornará nova. Seguirei o rumo que o vento me levar, mas não pra tão distante, pois meu coração permanece aqui.

Enough of love!



... Mas com palavras não sei dizer, como é grande o meu amor por você. Ah, dane-se Roberto Carlos! Chega de melancolia e achar que tudo isso é lindo, porque não é. Retornando às raízes descobri que não gosto muito do amor – e isso se revelou quando eu era ainda criança em meio a brincadeiras e “ele gosta de você”. Já revelei diversas vezes meu lado ignorante e chata ao amor e acho que ele se assustou um pouco e permaneceu durante muito tempo longe. Até que um dia desses ele me encontrou, retornou com todas as forças, me testando – ou se vingando. E eu estive tanto tempo afastada que no momento me encontrava desprotegida. E ele veio, me arrebatou e me transformou. A garota durona chorou, brigou com os pais e pensou em desistir dos sonhos pelo amor. Vi-me outra mulher, sensível, dramática, que daria a vida pelo romance barato que vivia. Quase me perdi, quase me deixei levar por este sentimento traiçoeiro que te faz planejar mundos e fundos pra te fazer sofrer depois. Mas sempre há quem seja nossos olhos nestas horas e que nos faz enxergar, sempre há.
Que se danem as músicas de Roberto e as histórias de Shakespeare, Julieta foi idiota em se apaixonar pelo inimigo e a gente ainda chora por achar linda a história que terminou em morte. Chega de fantasiar o mundo. Por trás deste vermelho há escuridão e melancolia. Vamos investir no cérebro ao invés do coração, pois tal só te faz tomar decisões estúpidas e que você se arrependerá depois. Não vamos nos enganar e ver beleza no que te faz enlouquecer e chorar. Tanto se ouve que para amar é preciso mudar, mas quem foi que disse que eu estou disposta a isso? Ninguém vai invadir a minha privacidade, ninguém vai deixar toalha molhada em cima da minha cama, ninguém vai me fazer perder o sono. Eu não estou disposta a abrir mão do que sou só pra dizer que mudei por amor. Quero ser eu mesma o motivo da mudança, evoluir e amadurecer.
Em cada bar, em cada esquina, gente se embriaga e passa vexame. Adquirem novos vícios, novos problemas, novas dores. Estas pessoas alimentavam uma felicidade fictícia enquanto supostamente amavam, com o tempo o amor tomou delas o que mais lhe valiam, a vida. Tomou conta e quando se foi uma parte delas foi junto. Que amor é este tão lindo que deixa tantos estragos?
Não vou deixar que me leve e me tome. Não vou tornar minha vida um cigarro do qual o amor traga e me deixa em cinzas. Vamos abrir mão da cegueira, da dependência, da prisão. De tanto tocar no rádio Tom Jobim te fez acreditar que “é impossível ser feliz sozinho” e você pensa que é o fim do mundo não ter ninguém do seu lado. Faz simpatia, apela para santo, liga pra todos os ex-namorados só pra voltar a sofrer. Você acha lindo sofrer, acha que está vivendo um grande amor e que faz parte abrir mão de si mesma e quando vê, está bebendo e se afundando num lamaçal de lamentações, “Ah, eu devia ter deixado o meu sonho pra lá..”, “Ah, eu devia ter mudado.. “ Ah.. Ah. Maldito seja quem inventou a carência, que desde os anos da pedra nos faz crer que precisamos de amor.
Stop now! Digo a mim mesma: Eu não preciso de amor! Eu não preciso de ninguém!
Eu já percebi que não nasci pra amar, sou egoísta, não gosto que invadam minha vida e me encham de mensagens românticas da qual me sinto na obrigação de retribuir. Vá procurar outra pra iludir porque aqui não, aqui tem amor-próprio suficiente. Aqui, meu caro amor, neste coração blindado você não vai tornar-se o centro das atenções, não será posto num pedestal. Eu posso muito bem ser feliz sem você.



"Há um motivo para dizer que eu seria mais feliz sozinha. Não foi porque eu pensei que seria mais feliz sozinha. Foi porque eu pensei que se eu amasse alguém, e depois acabasse, talvez eu não conseguisse sobreviver. É mais fácil ficar sozinho. Porque, e se você descobrir que precisa de amor? E depois você não tem mais. E se você gostar? E depender dele? E se você modelar a sua vida em torno dele? E então... ele acaba. Você consegue sobreviver a essa dor? Perder um amor é como perder um órgão. É como morrer. A única diferença é que a morte termina. Agora, isso? Isso pode continuar para sempre."
- Grey's Anatomy

A Incógnita




Dois reinos a travarem guerras no peito árduo que carrego. O fogo e a água, a coragem e o medo, a dúvida e a certeza, yin yang. Sou flor de perfume doce e espinhos a envolver. Sou a cantiga que de bela te faz chorar. Sou a cura e o veneno, a ignorância e a sabedoria, o tudo e o nada.  Não sou mentira que se esconde por trás de meias verdades, não sou a mania que se adquire conforme a geração que se vive, não sou dupla personalidade, nem tenho várias faces para apresentar ao mundo.

Um verso solto
Um velho novo
Um medo antigo
Um pensamento incontido.
Sou toda cores acinzentadas.

Eu não me vejo uma desvairada que se empolgou nas rimas da vida. Vejo-me apenas como uma incompreensão natural, um impasse psicológico lispectoriano, uma dúvida certa. Habita em mim todas as formas possíveis de se pensar, mas na ação sou toda timidez a conter a mente eletrizante que explode em versos escondidos nas páginas amarelas.

A razão e o coração que nunca se entendem,
Cada um com opinião própria,
Cada um com seu modo de buscar a felicidade.
São dois cabos principais que estão desconectados.

Tenho fases como a lua. Irradio luz própria assim como necessito receber a luz dos outros. Sinto fome, dor, sede, abstinência, carência, desprezo, amor. Sou quadro abstrato que ninguém entende ou que simplesmente não faz nenhum sentido. Se hoje te amo amanhã meu sentimento pode não ser o mesmo. Sou simplicidade complexa, mulher à beça, antiga inocência.

Ela é atriz que rouba a cena,
Razão e emoção a travarem guerras,
Apenas mais uma por aí tentando se encontrar
Enquanto tantos querem o amor a ela dedicar.

Vejo-me a todo instante em contradição, hora quero hora não, hora quem diz é a razão, hora a emoção. De tantos caminhos a escolher, entrei nesse sem saber... Sem saber que me transformo a cada segundo, que esta incógnita está longe de ser decifrada ou de tão perto que passa despercebida. E entre tantas pessoas no mundo, justo a mim coube ser eu.



Tentei, porém ainda acho que há muito a ser dito para que consigam me compreender.

Carta a um não tão antigo “amor”



Explorei o sentimento, e só depois que a maré acalmou pude fielmente analisar os fatos, os dias, as mensagens... A verdade sobre nós, ou apenas sobre mim.

Não me surpreende minha frieza agora, pois tudo está acabado. Mas gosto de dar explicações sinceras sobre o que se passou dentro de mim, gosto de dar possibilidades para que me entendam. Fique claro que nenhuma dessas verdades escondi, mas também não a coloquei num pedestal para que lhe chamasse a atenção, apenas deixei de lado, e agora que terminou, resgato-a.

Quando disse que me amava confesso que fui feliz, pois neste mundo jamais haviam me dito isso, talvez sim, um ou outro, mas não com tamanha intensidade. Também o desejei, isso não posso negar, pois teus olhos e teu coração me asseguravam que não me faltaria sentimento, frases bonitas em fins de tarde que me fizessem sorrir, sentimento e fantasia. Foram intensos dias, e de tanto dizer sobre o quanto gostava de mim, me pegava dizendo o mesmo. Você queria reciprocidade, e era isso que eu lhe dava. Mas fomos interrompidos e de tanta raiva pensei em fazer coisas que trariam danos irreparáveis, sem nem saber se daríamos certo ou não – mas se fosse por você, com certeza daria.

Você era sincero, ou pelo menos me parecia. Mas um dia você me fez uma pergunta, “Você realmente sente algo por mim ou eu apenas estou dizendo o que você gostaria de ouvir?” de imediato, no auge do sentimento, respondi que também sentia, também amava, mas quando na verdade não era essa a resposta.
Se for pensar bem, meu coração disparava quando te via, eu adorava estar com você, e nada se compara com a sensação de sua barba me arranhando, como eu gostava disso. Mas quando houve o primeiro obstáculo, tudo se esfriou dentro de mim, se extinguiu o sentimento. Eu te via tentando continuar mesmo assim, a esta altura já era dependente de mim, eu tinha o mundo pra me alegrar, e você só tinha a mim. Isso tudo foi me sufocando, me chateando. Seria injusto me tornar tua droga, aumentar teu desejo, se eu estava querendo mesmo é cair fora. Então dei um basta, e sei que nada entendeu ou talvez tenha entendido tudo, mas não queria admitir.

Então hoje digo que não amei, pois amor não se acaba de uma hora pra outra, não se desanima, não quer fugir. Amor é fiel até o ultimo suspiro.  Então confesso que tudo não passou de alguns dias felizes, e que hoje só me trazem lembranças boas. Talvez eu tenha sido egoísta, mas de nada adiantaria dar continuidade. Eu acho mesmo é que não era pra ser, não agora, não comigo entrando na faculdade e indo morar longe. Não com você.


Um beijo de quem sente carinho, só como amigo, nada mais.

"Coração surdo não tem juízo
Não ouve nunca a voz da razão
E razão você sabe, é preciso
Pra curar a sua loucura, coração"
- Zeca Baleiro.

Horizonte ultrapassado



Cansei-me de se cansar.
A todo o momento me lamento, lamento
E sustento sempre as mesmas indignações,
Estas que já parecem clichê em minha boca.

Há tempos não faço, não procuro, não escavo
Esta bendita vida que eu insisto em dizer que entendo,
Mas que tormento!... Eu sempre lamento.

Das flores, superficialmente vejo beleza
Nada mais que cores a ostentarem um lado bom disso tudo,
O lado bom deste enigma, que me intriga
Que me instiga, mas que não me permite mais mover uma só palha.

Onde foi parar meu eu?
Eu que tanto digo entender, entender o que?
Eu não passo desta mulher vitima dos sonhos,
Nada sei, nada entendo, e o que procuro? O que lamento?

Eu vejo pessoas internamente putrefeitas
Sujeira humana, sombra social
A falsidade de tão cheia reclama de si mesma,
Querendo ser flores, ironizando a essência,
Brincando com a nossa consciência.

Onde foram parar os amores?
As canções verdadeiras?
Os sentimentos bons?
A certeza de que haverá uma saída no fim desta vida,
Onde foi parar a fé nas pessoas, em Deus?

Procuramos beleza na podridão,
Companhia na solidão,
Carinho no agressor,
Perfume no mais desconhecido odor,
Somos superficiais ou de tamanha inocência que nem si quer notamos
O quanto buscamos onde não há vestígios de cor, beleza, amor.

Eu me cansei de se cansar,
Cansei de lamentar,
Cansei de ser mais uma a tentar a sorte
Enquanto a morte pesca os bons e prolonga a vida dos perversos.

Vou atravessar a fronteira
Sei lá eu se há outra maneira pra ser feliz,
Mas buscarei,
E com toda minha alma ostentarei
O mar azul e as míseras coisas boas que ainda existe
Além deste horizonte ultrapassado.

E quem sabe volto a este lugar acinzentado
Só pra extasiar com estas cores quem mereceu minha atenção.

Quem sabe volto com a resposta que o mundo tanto procura
Com motivos infinitos pra nunca mais sofrer, chorar, se lamentar.


The pain of goodbye


"Você me deu todo seu amor e tudo que eu te dei foi adeus."

A voz mansa me acordava carinhosamente e a dor que se alastrou durante dias havia cessado. Eu olhava aqueles olhos negros enquanto tuas mãos afagavam meus cabelos. Era doce, singelo. Eu havia o esperado durante todos os dias de minha vida e agora que o tinha não importavam mais as pessoas. Mas devia suspeitar e é verdade, eu suspeitei. Fora fácil demais. Chegou de repente e me completou. Chegou cedo e eu esperava que viesse um pouco mais tarde, quando anoitecesse a vida, quando os planos estivessem todos  executados, quando o mar acalmasse para ver minha metas todas atingidas. Preparei-me para te encontrar um pouco mais futuramente, quando necessitasse deste amor tranqüilo para completar os dias. E viera assim, mesmo que a solidão me fizesse chorar por alguém, viera cedo. Talvez fosse eu egoísta demais. Talvez esta fosse minha única chance de ser amada, talvez eu não fosse conhecer nunca mais alguém como você. Mas eu já nasci preparada para despedidas, sempre andei com uma mala com todos meus sentimentos, prestes a abandonar as pessoas e a mim mesma. Ou talvez, esta ultima frase que acabou de ler fosse apenas uma mascara muito bem elaborada, com traços que digo serem meus, sorrisos e expressões marcantes. Estou pronta para deixar-te ir, pois acho injusto te prender dentro de uma gaiola e simplesmente te soltar quando eu estiver pronta. Não seria honesto de minha parte. E eu sei que disse que me esperaria o tempo que fosse preciso, mas não quero ser tua droga, não quero que me trague e se vicie mais e mais em mim, enquanto lentamente roubo tua vida e teu coração. Não quero fazer parte do sangue que te deixa vivo, pois eu fui doce até hoje, mas tenho medo até mesmo da quão traiçoeira poderia me tornar ao te ver dependente de mim e cego de amor. Por isso, acho que veio cedo, e meu amor ainda não está maduro para aceitar-te como parte de mim. Pois não fui feita com total sabedoria, sou humana errante, que precisa aprender a compartilhar a si mesma, doar, preencher as lacunas com o que um alguém tem a me oferecer, e assumir que necessito desta atenção que só o amor tem a proporcionar. Mas ainda visto estas roupas invioláveis e esta proteção fortemente blindada que envolve a alma frágil que possuo. E você, com teus olhos negros e fala mansa quase me desarmou. Verdade! Quase me perdi inteiramente a você e ao chegar perto demais de lançar-me em teus braços, descobri que era cedo. Perdoe-me. Eu não posso roubar o que lhe resta de mais singelo, este coração que pulsa por mim. Eu não posso ser teu tudo, não posso ser tua motivação. Já basta eu pra me chatear e enganar. Deixo-te ir enquanto choro e tento desatar este nó na garganta que me faz crer que talvez eu esteja cometendo um grande erro. Digo-lhe palavras cuidadosamente escolhidas, mas que eu sei que atormentarão teus dias e te causarão dor. Digo a verdade (ou talvez minto), mas sei que é preciso, pois algo antecipadamente me conforta, talvez seja esta velha frase de que “se for pra ser, será” ou este teu cheiro de amor que me trará lembranças saudáveis. Ou um futuro que de tão maluco, nos dê uma outra chance.



- Come up to meet you, tell you I'm sorry
You don't know how lovely you are   ♫


Eu sei, meus últimos textos mais parecem continuações. Mas isso termina por aqui (eu acho).

Ironias do amor


Encontraste o amor, mas nunca pensou que seria tremendo caos. Não ele e sim as pessoas. Ela sonhou tanto, se preparou tanto, e no fim o grito estridente de alegria falhou. Tua voz era esquecida pela razão. Se estavam certos ou não ela não sabia, talvez estivessem, mas falhou. Quando enfim encontrou teve que se contentar em deixá-lo ir. Mesmo com lágrimas nos olhos, mesmo arrependida, mesmo com o coração em pedaços ensangüentados. E todos queriam que ela continuasse a sorrir. Quanta ironia. Tua face deixara a muito tempo de corresponder aos seus sentimentos, não havia quase nenhum elo. E então ela sorria com tremendo nó na garganta, com a dor eterna de uma apaixonada. Cortaram-lhe as asas e queriam que continuasse a voar.

E ele não fora tão longe, também se contentou em tê-la apenas na memória, se contentou em ser chamado de amigo, talvez para vê-la bem, para não atrapalhar. Teus olhos choravam enquanto sorria. Ele seria apenas amigo, mesmo que lhe doesse a alma, mesmo que fosse eterna a espera. Pois ela pedira que não criasse mais caos, mesmo que não fosse sua vontade, e ele atendeu. Indignava-se completamente com o mundo e não compreendia o porquê de impedi-los de ser o amor da vida um do outro, mas respeitava-a, pois amava.

Mas nenhum dos dois estava inteiramente feliz. Apenas o que lhes dava esperança era o futuro, a possibilidade de voltarem e nunca mais se largarem. Mas o futuro estava distante e mais distante ainda eles. Apenas o que os unia era o coração, e este, interferência mundana nenhuma poderia desfazer o que sentiam.

E é no silêncio da noite, na reflexão que a escuridão os leva, era aí que eles mais se amavam.

E ela ainda pensava nele.
E ele se entristecia por não tê-la.
E o mundo... Bom, ele acha que está certo em separar estes dois.

...Mas não por muito tempo, pois o coração não gosta de esperar, e muito menos o destes dois.

Aquela que não sabia amar




No que acreditar? Onde buscar? Ela preenchia linhas e linhas sem se satisfazer, alimentava o ego de besteiras e ilusões que todos tentavam entender ou ao menos fingiam. Uma dose de sofrimento engolia em seco todos os dias e enaltecia sua dor. Vivia fazendo alusão ao amor, escrevia poemas, como quem conhece profundamente, como quem já teve um caso com tal sentimento. Ela mentia para si mesma todos os dias quando dizia que, tal amor já lhe fizera sofrer. A verdade é que ela nunca nem si quer passara mesmo por tal situação capaz de deixar cicatrizes visíveis em seu peito, pois antes mesmo de acontecer, ela já rompia o inicio. Destruíra as pontes e se ilhou por vontade própria, pensou ser forte, firme e na verdade apenas enfraqueceu os anticorpos, as barreiras, as proteções. De tanto se privar tornou-se frágil, e de tão frágil não sabia mais como se expor, perdera o jeito com as coisas, a vida, os relacionamentos.
Todos os dias ela sente falta do que não foi, do que poderia ter acontecido se tivesse dado a chance a si mesma. E como em dias passados ela repete tudo de novo, como uma rotina de quem se pune, de quem se lamenta. E todas as lágrimas continuam a embaçar teus olhos e ela comete os mesmo erros, continua a relembrar os mesmos fatos tristes. E só agora percebeu que anda em círculos, e o caminho já está marcado, é sempre o mesmo.
Ela sabe exatamente onde errou. Colocou o amor num pedestal e sempre achou não estar, ainda, a altura de tal sentimento. Ela sempre acreditou que chegaria a hora, mas tudo foi tão planejado que quando finalmente era pra acontecer, quando o amor lhe escolhera, ela de tão assustada congelou-se e ao invés de dar o passo adiante ficou ali parada, observando enquanto ele de tanto esperar, desistira.
Havia se acostumado a apenas observar, a ser egoísta o suficiente, a ter medo do amor das outras pessoas por ela. O amor sempre a assustava mesmo ela o desejando mais que todos os demais ideais. Por mais que quisessem salva-la, não permitia. E de tanto viver daquele modo se acostumara. As pessoas perguntavam, “onde se encontra o amor em sua vida? Você não sente falta?”, e as mesmas respostas ensaiadas eram ditas todas às vezes. Para poucos lamentava e ainda sim estes poucos não podiam compreender. Era livre para amar, para sonhar, para descobrir, mas ela mesma se privara de tudo.
A saída ainda era a mesma e ela sabia o que te salvaria. Sua vontade era dar logo a dica, botar a mão no fogo por algum herói que não temesse a obscuridade que ela carrega no peito, que percorresse milhas e milhas destas infinitas estradas sem se importar se nunca a conhecesse totalmente. Mas ela sempre foi cruel com quem quis, ela sempre desencorajou o destemido, destruiu as esperanças com frases como “apenas o quero como amigo”. A culpa era dela, e ela sabia... Sabia a ponto de encher os olhos de lágrimas e colocar o mesmo sorriso de quem é feliz todos os dias... E andar em círculos como sempre fizera.
Ela precisava de alguém que ignorasse o que saia de sua boca e a amasse fielmente. Mas por onde anda este? Por que não a tira logo, por que não a salva? ...Mas quem se interessaria...?


Ana Paula Ribeiro

A doce voz da felicidade



Bela noite que me mudas
Por que me envolve em dúvidas?
Perco-me toda quando vens
Molda-me, toca-me como te convém
Desperta o sentimento adormecido.

Eu que sou fraca diante a penumbra
Deixo-me levar por ideias suas,
Que nada mais são que a voz mansa e certa da minha alma.

Pois é no silêncio destas noites
Que posso ouvir o gritar incessante de quem quer ser feliz
De quem quer se importar um pouco menos com os outros
De quem tem medo da velocidade do tempo,
Dos destinos incertos,
Da morte, da perda, do amanhã.

 Bela noite que me mudas
Quero tornar certas estas dúvidas,
E que pela amanhã eu não volte
A ser aquele velho molde
Que atrasa a felicidade por simples solidariedade à felicidade do próximo.

Que minha fome seja saciada,
Pois quando eu deixar esta jornada
Quero apenas ter feito tudo o que desejei.

Bela noite que me mudas
Quero me entregar às ideias suas
Que nada mais são que a voz mansa e certa da minha alma.

(E eu tenho precisado disso, se importar um pouco menos com os outros e mais comigo).

Ana Paula Ribeiro

Entre loucuras e canções


Em umas destas tardes de outono em que a chuva dominava a sonoridade do lado de fora e não restava mais ninguém além de mim em casa, coloquei um cd no aparelho de som e deitei-me no chão frio do meu quarto. Fechei os olhos e tomei posse daquele momento. A música adentrava em meus ouvidos e me fazia esquecer-se da chuva, das pessoas, das obrigações. Não sei qual foi o momento exato, mas eu entrei em contato com a minha alma e, como se tivesse em terapia, refleti sobre quem eu sou. Engraçado como nestes momentos sempre passa um flash back de momentos da minha infância que me levaram a ser quem sou hoje.  O mistério sempre foi um dos meus melhores passatempos e eu adorava conhecer e analisar tudo ao meu redor. Aquela era o momento propício para mais um mergulho na obscuridade do “se entender”.
A música calma terminou e logo veio uma mais agitada. Era a voz de Laura Pausini a cantar “Con la musica em la rádio”, uma das minhas canções preferidas. E em meio ao entendimento e reflexão, pude ouvir passos a se chocarem contra o piso. A movimentação me fez abrir os olhos e se deparar com a minha imagem a dançar ao som do refrão, tentando alcançar a mesma afinação da cantora. A imagem era um pouco menos sólida e eu podia ver através dela. Estava de olhos fechados e ia de um lado para o outro como quem é dominada pela sintonia entre o corpo e a música. Até que “aquela eu” abre os olhos e sorri enquanto continua a dançar. Eu não estava assustava, apenas queria entender por que estava vendo a mim mesma, por que não podia ouvir mais o som da chuva, por que não podia ser normal como toda a sociedade.
- Não é legal ser como todos os outros, acredite! A loucura que é o lado divertido desta vida. – responde o meu eu enquanto continuava a dançar.
Ela podia ouvir meus pensamentos, é claro. Aquela sua resposta sempre foi comum me vir a mente e eu acreditava plenamente nela. Pus-me em um diálogo um tanto incomum enquanto se sentava na cama e acompanhava com os olhos o meu dançar desajeitado. Chegou ao fim àquela canção e começou outra, um pouco mais calma e eu, ela, minha alma continuava a dançar. Comecei a pensar nas outras pessoas, nos seus romances, nas suas vidas. Desde a minha infância eu já me sentia diferente, a solidão era a única companheira das noites sofridas, e folhas em branco eram preenchidas de lágrimas traçadas em versos de uma sonhadora. Eu só queria uma canção dedicada, um amor simples, a alegria de uma casa cheia de crianças a derrubarem objetos e distraírem a mim.
- Não queira ser normal. Milhares de pessoas chegam e logo se vão sem ao menos entender o sentido disso tudo, anexadas a uma monotonia que não as permite parar para pensar e perceber que é uma loucura viver. Seus empregos, a correria, o buscar incansável de uma velhice tranquila. Passam todos os dias pelas mesmas ruas movimentadas, a reclamar do transito, da vida, do cansaço, exigem o máximo de si mesmas e não se dão ao luxo de parar um pouco e perceber que aquelas ruas passam paralelas a um mar calmo, frio e de espumas relaxantes. Você já consegue molhar os joelhos neste mar como ninguém. Quem te olha nos olhos não sabe do que se passa do lado de dentro e por isso podem até pensar que você é louca... Quando isso acontecer, sorriremos e agradeceremos juntas, pois a nós coube ser diferente e compreender este mistério que rege a humanidade.
Aquela minha imagem nem se quer movera os lábios, eu havia ouvido tudo aquilo dentro da minha própria mente. Aos poucos a imagem foi se transparecendo até restar apenas eu novamente. Por mais que em todas as outras vezes eu tenha sofrido, no fundo eu sempre soube que não queria ser como os demais. Queria mesmo ser louca de entender e tirar proveito disso. Levantei-me, e no último refrão daquela música me pus a dançar, naquela sintonia harmoniosa entre a alma do mundo e a minha.

Ana Paula Ribeiro

A dor desta alma emudecida



Os dias passaram e a dor não cessou. Continuou a perturbar-me incansavelmente, porém agora eu estava em desvantagem. As palavras em minha alma haviam secado e virado pó, assim como as folhas deste outono. Eu podia ver a mim por dentro como quem olha um pote de vidro, podia ver minha mente se contorcer, revirar, sofrer, tudo em silêncio, como um filme mudo do qual apenas as expressões corpóreas são capazes de dizer algo. A mim cabia tentar se auto ajudar, trazer o fôlego intenso que oxigenaria minha sensibilidade à escrita.
Durante estas semanas me auto flagelei, adquiri o pensamento de que, “Se for pra escrever qualquer coisa eu prefiro não escrever” e isto foi o grande bloqueio entre minha mente e minha alma, o elo que havia foi brutalmente interrompido e meus dias passaram a ser o reflexo daquelas almas incolores como as que vejo em meu dia a dia. Eu havia me tornado um deles sem que percebesse.
Um único pensamento já foi o suficiente, cobrava de mim uma inspiração magnífica, mas nem a mais singela e simples encontrava. Não era só em relação à escrita como um hobby, mas também como dever, como expressão de pensamentos para a grande seleção, como a redação. Fugiu-me toda a forma, todo o vocabulário, toda a voz.
Cansada estou de lutar sem voz, de me afogar sem que eu mesma me salve. Não há ajuda externa que possa fazer algo sem que primeiramente eu faça. Preciso voltar a beber desta água que irriga minha sensibilidade, preciso encontrar a luz no fim deste labirinto para que eu possa voltar a ver nitidamente. Só espero que no fim deste abismo haja um rio que amorteça minha queda e possibilite meu retorno a terras firmes e já habitadas.
Mas meus olhos já podem ver um ponto iluminado no fim deste corredor escuro, cabe a mim os passos largos e acolher em meus braços o que tanto me fez falta: a escrita.

Ana Paula Ribeiro

É tudo ensaiado


Ao som da música lama .

As pessoas estão se abraçando e se despedindo. “Receba o meu elogio, foi um peça maravilhosa”, tapinha nas costas e sorrisos de aprovação. As pessoas desviam o foco de você, vão para suas casas, retornam para o martírio de suas vidas. Agora que não restou ninguém, você já pode tirar o sorriso dos lábios, já pode lavar bem esta face maquiada. Todo este estereótipo já não importa, tire esta roupa de marca e estas jóias, não há porquê se desgastar com todo este peso desnecessário. Corra atrás da mulher que tanto te amou. Sim, teus olhos estavam cegos demais por pessoas que só te pisavam e se aproveitavam de suas fraquezas. Você não é menos importante do que a maioria. Liberte estas lágrimas e desate este nó em sua garganta que engoliu a cada humilhação sofrida. Você também tem problemas e não negue o sofrimento que eles causam. Seja sincero, você não precisa usar esta máscara e fazer esta cena ensaiada todas as vezes que sair em público. As cortinas estão fechadas e teus olhos buscam por um ponto de abrigo, algum outro par de olhos que consigam te entender e te consolar, mas o palco está vazio e as equipe de apoio a aquela encenação já se foram sem que ao menos você percebesse. Então você esta só. Começa a odiar a sociedade, as pessoas, o modo como as coisas são como se não já soubesse, como se desde sua infância não tivesse aprendido, mesmo que para um futuro distante, a não confiar em ninguém. As pessoas são desprezíveis e hipócritas e só agora que a queda causou uma dor insuportável, só agora você decidiu que não cairia mais nessa. Mesmo que você já tenha descoberto a finalidade, ainda está ativo e tem a chance de mudar o jogo, apenas precisa dar o primeiro passo. Apenas precisa tomar a vida deste personagem e moldá-lo da forma que realmente é. Você pode ser quem quiser, conquistar seu espaço em meio a mediocridade sendo você mesmo, pois sempre haverá espaço para os que ousam viver sem disfarces, apesar de serem atacados pela sociedade diariamente por não seguir o que eles pregam, o que desejam. Apesar de trabalhosa esta vida sem máscaras, você se acostuma. Liberte a si mesmo para correr atrás dos sonhos de criança, aqueles que faziam teus olhos brilharem independente do reconhecimento financeiro. Você é como um pássaro livre, mesmo que durante toda sua vida a sociedade te fez crer que era mantido em uma gaiola, tuas asas foram feitas para o vôo e para atingir o mais alto céu que desejasse. Apesar de difícil, você aprende a não precisar de ninguém e a confiar apenas em si mesmo. Um dia termina dando início a outro e a escolha cabe a você. A platéia está a espreita de uma recaída sua, e só você para crer no seu próprio potencial. Só você para enfrentar estas críticas e caminhar com a cara limpa, sendo você mesmo nesta grande cena teatral que aplaude os hipócritas e crucifica os honestos.
Na verdade tudo isso é ensaiado.
Ana Paula Ribeiro

Porcentagens


A vida está repleta de porcentagens decisivas. De mortes banais. De vidas salvas por segundos. Por mais forte que você seja, por mais confiante, sempre haverá aquele medo de não conseguir. Cirurgias consideradas simples e que levam o paciente a morte. Tratamentos 99% eficazes, mas que aquele pobre ser humano fez jus ao maldito 1%. Pessoas a ganharem na mega sena. Pessoas a empobrecerem por detalhes que passaram despercebidos. Haverá sempre a chance, o risco, o fio entre a vida e a morte, o detalhe esquecido, os decimais que decidem se você passará ou não no vestibular, o um em centenas de se encontrar a alma gêmea. Eu posso até te encorajar e deixar que passe despercebida as chances de que você não consiga, não vença, não viva, mas você sabe, sua mente sabe, e ela sempre te dará o frio na barriga, o desanimo, o desespero. As porcentagens tem grande impacto em nossas vidas, mas só o medo delas já são capazes de nos ruir. A vida brinca com o que mais nos importamos, e apenas o que nos resta é torcer pelo final feliz ou o quer que seja considerada felicidade pra você. Mas uma porcentagem te trouxe a vida, dentre milhares você se destacou e mereceu viver, então não se deixe abalar por míseras chances de não dar certo, a próxima oportunidade sempre haverá. Tudo depende de você e a importância que dá às porcentagens.

Do you believe in miracles?


Um tratamento quase eficaz. Quase. A porcentagem que está a diminuir minha auto-estima. 

The Mistress


Enquanto a maresia refresca a pele já marcada pelo sol, me delicio das lembranças, aquelas que nos amávamos noites inteiras. Ele era o tipo de homem sério, respeitado, corpo robusto e sorriso de fechar qualquer negócio. Era dezesseis anos mais velho enquanto eu, cabelos negros e corpo escultural, cobiçada pelos jovens universitários. Quando o conheci, não passava dos vinte anos. Avistei-o pela primeira vez nos corredores da faculdade, onde iria palestrar sobre o mundo dos negócios. Teus olhos se fixaram nos meus até eu entrar no auditório. Após a palestra pediu meu telefone e na mesma noite nos encontramos. Foi uma noite da qual não mais me esqueceria. Vemos-nos mais algumas vezes na semana e desde aí, virou rotina nos encontrarmos em pousadas e motéis distantes da cidade. Eras tardes, noites e viagens a negócios. Levava-me sem que ninguém soubesse, fingia não me conhecer e nos esbarrávamos propositalmente nos aeroportos. Pagava-me quartos de hotéis luxuosos próximo ao teu para que no meio da noite nos encontrássemos. A rigidez de teu corpo nu me excitava de tal forma que eu me entregava inteiramente a aquela paixão. Teu lábios a percorrerem meu corpo me extasiava. Me encontrava cada vez mais dependente do teu sexo, não precisava mais de ninguém, só dele. Até que em uma de nossas noites quentes, entre uma carícia e outra deixei escapar um “eu te amo”. Talvez não fosse a definição correta para o que eu sentia, já que não era um romance, desses que se apaixona e se respeita, ele era casado e eu, a amante que satisfazia o que a esposa não era capaz. Ele me olhou bem nos olhos e depois de alguns instantes me amou como nunca antes. Fora intenso, nossos corpos suavam e ele nem se quer parava. Sexo silencioso do qual apenas se ouvia os gemidos. Ao enfim terminarmos em meio a madrugada, veste-se rapidamente e me beija. Pela última vez. Não mais me procurou e eu não podia também ligar nem procurar já que o que tínhamos ninguém além de nós sabia. Tentei retornar a minha vida incolor, sem noites intensas de renovar as energias, mas não durei muito tempo. Aquele homem havia transformado completamente minha feminilidade. Compreendi que nada mais importava, aquela era minha sina, viver de paixões ardentes e bebidas caras. E então, estava eu ali, ao exibir minhas curvas na praia da frente de um hotel, cujo hospeda muitos conferencistas importantes e cheios de fantasias com amantes quentes, como a que eu havia me tornado. Sim, muitos já haviam pedido meu número e eu mal esperava para encontrar em outros homens aquele que eu amara, em outras camas, com bebidas caras que me deixam completamente vulnerável, assim como você gostava de ter-me em teus braços, mas agora, preparada para as despedidas.



- Uma dose de erotismo pra fugir do clichê. -

Sonhador



Dentre tantas repreensões
Em que a inveja quis te diminuir,
Foram dúvidas que passaram pela sua cabeça
E inúmeras vezes pensou em desistir.

Mas o sonhador não permite que esmaguem seus sonhos
Por mais que lhe pisem, por mais que humilhem
Por mais difícil que seja caminhar enquanto tantos te barram.

Faça acontecer, seja o melhor,
Não há nada mais motivador que um ser humano realizado.

... E depois agir.