Amantes de guerra


Esta estrada não parece a mesma da qual bailávamos entre pernas bambas à luz da lua, após doses inteiras de uísque. Teus olhos rasos se tornaram profundamente obscuros. Eu nem mesmo sei onde exatamente nos afastamos, na faculdade ou neste casamento furado.
As fotos revelam o quanto um dia nos amamos. Nelas estão guardadas as lembranças da faculdade, da qual apesar de estúpida, eu só resolvi fazer por sua causa. Intervalos inteiros você me provocava até terminarmos no “achados e perdidos” fazendo amor.
Era tempo de guerra, revolução. Éramos aqueles que entravam em conflito com os militares, fingíamos estar bêbados enquanto bolávamos algo contra a imposição do governo militar. Brincávamos com o perigo enquanto a adrenalina nos impulsionava a ir mais longe, a ousar.
E então, meu bem? Onde nos perdemos? Teus olhos não brilham mais como em tempos de guerra. Talvez o que movia nosso amor era aquela sensação extasiante de se amar mesmo na dor, mesmo que o país quisesse aprisionar as paixões e os pensamentos.
Este pó e silencio que se alastrou no ar após o fim de tudo, também nos esfriou. Podíamos ser bem mais do que somos agora, amantes presos a um passado memorável.